Capitulo 1. Como esta sentada solitaria a cidade que era tao populosa! tornou-se como viuva a que era grande entre as nac,oes! A que era princesa entre as provincias tornou-se avassalada! Chora amargamente de noite, e as lagrimas lhe correm pelas faces; nao tem quem a console entre todos os seus amantes; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela; tornaram-se seus inimigos. Juda foi para o cativeiro para sofrer aflic,ao e dura servidao; ela habita entre as nac,oes, nao acha descanso; todos os seus perseguidores a alcanc,aram nas suas angustias. Os caminhos de Siao pranteiam, porque nao ha quem venha `a assembleia solene; todas as suas portas estao desoladas; os seus sacerdotes suspiram; as suas virgens estao tristes, e ela mesma sofre amargamente. Os seus adversarios a dominam, os seus inimigos prosperam; porque o Senhor a afligiu por causa da multidao das suas transgressoes; os seus filhinhos marcharam para o cativeiro adiante do adversario. E da filha de Siao ja se foi todo o seu esplendor; os seus principes ficaram sendo como cervos que nao acham pasto e caminham sem forc,a adiante do perseguidor. Lembra-se Jerusalem, nos dias da sua aflic,ao e dos seus exilios, de todas as suas preciosas coisas, que tivera desde os tempos antigos; quando caia o seu povo na mao do adversario, e nao havia quem a socorresse, os adversarios a viram, e zombaram da sua ruina. Jerusalem gravemente pecou, por isso se fez imunda; todos os que a honravam a desprezam, porque lhe viram a nudez; ela tambem suspira e se volta para tras. A sua imundicia estava nas suas fraldas; nao se lembrava do seu fim; por isso foi espantosamente abatida; nao ha quem a console; ve, Senhor, a minha aflic,ao; pois o inimigo se tem engrandecido. Estendeu o adversario a sua mao a todas as coisas preciosas dela; pois ela viu entrar no seu santuario as nac,oes, acerca das quais ordenaste que nao entrassem na tua congregac,ao. Todo o seu povo anda gemendo, buscando o pao; deram as suas coisas mais preciosas a troco de mantimento para refazerem as suas forc,as. Ve, Senhor, e contempla, pois me tornei desprezivel. Nao vos comove isto a todos vos que passais pelo caminho? Atendei e vede se ha dor igual a minha dor, que veio sobre mim, com que o Senhor me afligiu, no dia do furor da sua ira. Desde o alto enviou fogo que entra nos meus ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pes, fez-me voltar para tras, tornou-me desolada e desfalecida o dia todo. O jugo das minhas transgressoes foi atado; pela sua mao elas foram entretecidas e postas sobre o meu pescoc,o; ele abateu a minha forc,a; entregou-me o Senhor nas maos daqueles a quem eu nao posso resistir. O Senhor desprezou todos os meus valentes no meio de mim; convocou contra mim uma assembleia para esmagar os meus mancebos; o Senhor pisou como num lagar a virgem filha de Juda. Por estas coisas vou chorando; os meus olhos, os meus olhos se desfazem em aguas; porque esta longe de mim um consolador que pudesse renovar o meu animo; os meus filhos estao desolados, porque prevaleceu o inimigo. Estende Siao as suas maos, nao ha quem a console; ordenou o Senhor acerca de Jaco que fossem inimigos os que estao em redor dele; Jerusalem se tornou entre eles uma coisa imunda. Justo e o Senhor, pois me rebelei contra os seus mandamentos; ouvi, rogo-vos, todos os povos, e vede a minha dor; para o cativeiro foram-se as minhas virgens e os meus mancebos. Chamei os meus amantes, mas eles me enganaram; os meus sacerdotes e os meus anciaos expiraram na cidade, enquanto buscavam para si mantimento, para refazerem as suas forc,as. Olha, Senhor, porque estou angustiada; turbadas estao as minhas entranhas; o meu corac,ao esta transtornado dentro de mim; porque gravemente me rebelei. Na rua me desfilha a espada, em casa e como a morte. Ouviram como estou gemendo; mas nao ha quem me console; todos os meus inimigos souberam do meu mal; alegram-se de que tu o determinaste; mas, em trazendo tu o dia que anunciaste, eles se tornarao semelhantes a mim. Venha toda a sua maldade para a tua presenc,a, e faze-lhes como me fizeste a mim por causa de todas as minhas transgressoes; pois muitos sao os meus gemidos, e desfalecido esta o meu corac,ao.
Capitulo 2. Como cobriu o Senhor de nuvens na sua ira a filha de Siao! derrubou do ceu `a terra a gloria de Israel, e no dia da sua ira nao se lembrou do escabelo de seus pes. Devorou o Senhor sem piedade todas as moradas de Jaco; derrubou no seu furor as fortalezas da filha de Juda; abateu-as ate a terra. Tratou como profanos o reino e os seus principes. No furor da sua ira cortou toda a forc,a de Israel; retirou para tras a sua destra de diante do inimigo; e ardeu contra Jaco, como labareda de fogo que tudo consome em redor. Armou o seu arco como inimigo, firmou a sua destra como adversario, e matou todo o que era formoso aos olhos; derramou a sua indignac,ao como fogo na tenda da filha de Siao. Tornou-se o Senhor como inimigo; devorou a Israel, devorou todos os seus palacios, destruiu as suas fortalezas, e multiplicou na filha de Juda o pranto e a lamentac,ao. E arrancou a sua cabana com violencia, como se fosse a de uma horta; destruiu o seu lugar de assembleia; o Senhor entregou ao esquecimento em Siao a assembleia solene e o sabado; e na indignac,ao da sua ira rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote. Desprezou o Senhor o seu altar, detestou o seu santuario; entregou na mao do inimigo os muros dos seus palacios; deram-se gritos na casa do Senhor, como em dia de reuniao solene. Resolveu o Senhor destruir o muro da filha de Siao; estendeu o cordel, nao reteve a sua mao de fazer estragos; fez gemer o antemuro e o muro; eles juntamente se enfraquecem. Sepultadas na terra estao as suas portas; ele destruiu e despedac,ou os ferrolhos dela; o seu rei e os seus principes estao entre as nac,oes; nao ha lei; tambem os seus profetas nao recebem visao alguma da parte do Senhor. Estao sentados no chao os anciaos da filha de Siao, e ficam calados; lanc,aram po sobre as suas cabec,as; cingiram sacos; as virgens de Jerusalem abaixaram as suas cabec,as ate o chao. Ja se consumiram os meus olhos com lagrimas, turbada esta a minha alma, o meu corac,ao se derrama de tristeza por causa do quebrantamento da filha do meu povo; porquanto desfalecem os meninos e as crianc,as de peito pelas ruas da cidade. Ao desfalecerem, como feridos, pelas ruas da cidade, ao exalarem as suas almas no regac,o de suas maes, perguntam a elas: Onde esta o trigo e o vinho? Que testemunho te darei, a que te compararei, o filha de Jerusalem? A quem te assemelharei, para te consolar, o virgem filha de Siao? pois grande como o mar e a tua ferida; quem te podera curar? Os teus profetas viram para ti visoes falsas e insensatas; e nao manifestaram a tua iniqueidade, para te desviarem do cativeiro; mas viram para ti profecias vas e coisas que te levaram ao exilio. Todos os que passam pelo caminho batem palmas contra ti; eles assobiam e meneiam a cabec,a sobre a filha de Jerusalem, dizendo: E esta a cidade que denominavam a perfeic,ao da formosura, o gozo da terra toda? Todos os teus inimigos abrem as suas bocas contra ti, assobiam, e rangem os dentes; dizem: Devoramo-la; certamente este e o dia que esperavamos; achamo-lo, vimo-lo. Fez o Senhor o que intentou; cumpriu a sua palavra, que ordenou desde os dias da antigueidade; derrubou, e nao se apiedou; fez que o inimigo se alegrasse por tua causa, exaltou o poder dos teus adversarios. Clama ao Senhor, o filha de Siao; corram as tuas lagrimas, como um ribeiro, de dia e de noite; nao te des repouso, nem descansem os teus olhos. Levanta-te, clama de noite no principio das vigias; derrama o teu corac,ao como aguas diante do Senhor! Levanta a ele as tuas maos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome `a entrada de todas as ruas. Ve, o Senhor, e considera a quem assim tens tratado! Acaso comerao as mulheres o fruto de si mesmas, as crianc,as que trazem nos brac,os? ou matar-se-a no santuario do Senhor o sacerdote e o profeta? Jazem por terra nas ruas o moc,o e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair `a espada; tu os mataste no dia da tua ira; trucidaste-os sem misericordia. Convocaste de toda a parte os meus terrores, como no dia de assembleia solene; nao houve no dia da ira do Senhor quem escapasse ou ficasse; aqueles que eu trouxe nas maos e criei, o meu inimigo os consumiu.
Capitulo 3. Eu sou o homem que viu a aflic,ao causada pela vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar em trevas e nao na luz. Deveras fez virar e revirar a sua mao contra mim o dia todo. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele; quebrou-me os ossos. Levantou trincheiras contra mim, e me cercou de fel e trabalho. Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos ha muito. Cercou-me de uma sebe de modo que nao posso sair; agravou os meus grilhoes. Ainda quando grito e clamo por socorro, ele exclui a minha orac,ao. Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas. Fez-se-me como urso de emboscada, um leao em esconderijos. Desviou os meus caminhos, e fez-me em pedac,os; deixou-me desolado. Armou o seu arco, e me pos como alvo `a flecha. Fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava. Fui feito um objeto de escarnio para todo o meu povo, e a sua canc,ao o dia todo. Encheu-me de amarguras, fartou-me de absinto. Quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza. Alongaste da paz a minha alma; esqueci-me do que seja a felicidade. Digo, pois: Ja pereceu a minha forc,a, como tambem a minha esperanc,a no Senhor. Lembra-te da minha aflic,ao e amargura, do absinto e do fel. Minha alma ainda os conserva na memoria, e se abate dentro de mim. Torno a trazer isso `a mente, portanto tenho esperanc,a. A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericordias nao tem fim; renovam-se cada manha. Grande e a tua fidelidade. A minha porc,ao e o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom e o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom e ter esperanc,a, e aguardar em silencio a salvac,ao do Senhor. Bom e para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Que se assente ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o pos sobre ele. Ponha a sua boca no po; talvez ainda haja esperanc,a. De a sua face ao que o fere; farte-se de afronta. Pois o Senhor nao rejeitara para sempre. Embora entristec,a a alguem, contudo tera compaixao segundo a grandeza da sua misericordia. Porque nao aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens. Pisar debaixo dos pes a todos os presos da terra, perverter o direito do homem perante a face do Altissimo, subverter o homem no seu pleito, nao sao do agrado do senhor. Quem e aquele que manda, e assim acontece, sem que o Senhor o tenha ordenado? Nao sai da boca do Altissimo tanto o mal como o bem? Por que se queixaria o homem vivente, o varao por causa do castigo dos seus pecados? Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor. Levantemos os nossos corac,oes com as maos para Deus no ceu dizendo; Nos transgredimos, e fomos rebeldes, e nao perdoaste, Cobriste-te de ira, e nos perseguiste; mataste, nao te apiedaste. Cobriste-te de nuvens, para que nao passe a nossa orac,ao. Como escoria e refugo nos puseste no meio dos povos. Todos os nossos inimigos abriram contra nos a sua boca. Temor e cova vieram sobre nos, assolac,ao e destruic,ao. Torrentes de aguas correm dos meus olhos, por causa da destruic,ao da filha do meu povo. Os meus olhos derramam lagrimas, e nao cessam, sem haver intermissao, ate que o Senhor atente e veja desde o ceu. Os meus olhos me afligem, por causa de todas as filhas da minha cidade. Como ave me cac,aram os que, sem causa, sao meus inimigos. Atiraram-me vivo na masmorra, e lanc,aram pedras sobre mim. Aguas correram sobre a minha cabec,a; eu disse: Estou cortado. Invoquei o teu nome, Senhor, desde a profundeza da masmorra. Ouviste a minha voz; nao escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Nao temas. Pleiteaste, Senhor, a minha causa; remiste a minha vida. Viste, Senhor, a injustic,a que sofri; julga tu a minha causa. Viste toda a sua vinganc,a, todos os seus designios contra mim. Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus designios contra mim, os labios e os pensamentos dos que se levantam contra mim o dia todo. Observa-os ao assentarem-se e ao levantarem-se; eu sou a sua canc,ao. Tu lhes daras a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas maos. Tu lhes daras dureza de corac,ao, maldic,ao tua sobre eles. Na tua ira os perseguiras, e os destruiras de debaixo dos teus ceus, o Senhor.
Capitulo 4. Como se escureceu o ouro! como se mudou o ouro purissimo! como estao espalhadas as pedras do santuario pelas esquinas de todas as ruas! Os preciosos filhos de Siao, comparaveis a ouro puro, como sao agora reputados por vasos de barro, obra das maos de oleiro! Ate os chacais abaixam o peito, dao de mamar aos seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto. A lingua do que mama fica pegada pela sede ao seu paladar; os meninos pedem pao, e ninguem lho reparte. Os que comiam iguarias delicadas desfalecem nas ruas; os que se criavam em escarlata abrac,am monturos. Pois maior e a iniqueidade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, a qual foi subvertida como num momento, sem que mao alguma lhe tocasse. Os seus nobres eram mais alvos do que a neve, mais brancos do que o leite, eram mais ruivos de corpo do que o coral, e a sua formosura era como a de safira. Mas agora escureceu-se o seu parecer mais do que o negrume; eles nao sao reconhecidos nas ruas; a sua pele se lhes pegou aos ossos; secou-se, tornou-se como um pau. . Os mortos `a espada eram mais ditosos do que os mortos `a fome, pois estes se esgotavam, como traspassados, por falta dos frutos dos campos. As maos das mulheres compassivas cozeram os proprios filhos; estes lhes serviram de alimento na destruic,ao da filha do meu povo. Deu o Senhor cumprimento ao seu furor, derramou o ardor da sua ira; e acendeu um fogo em Siao, que consumiu os seus fundamentos. Nao creram os reis da terra, bem como nenhum dos moradores do mundo, que adversario ou inimigo pudesse entrar pelas portas de Jerusalem. Isso foi por causa dos pecados dos seus profetas e das iniqueidades dos seus sacerdotes, que derramaram no meio dela o sangue dos justos. Vagueiam como cegos pelas ruas; andam contaminados de sangue, de tal sorte que nao se lhes pode tocar nas roupas. Desviai-vos! imundo! gritavam-lhes; desviai-vos, desviai-vos, nao toqueis! Quando fugiram, e andaram, vagueando, dizia-se entre as nac,oes: Nunca mais morarao aqui. A ira do Senhor os espalhou; ele nunca mais tornara a olhar para eles; nao respeitaram a pessoa dos sacerdotes, nem se compadeceram dos velhos. Os nossos olhos desfaleciam, esperando o nosso vao socorro. em vigiando olhavamos para uma nac,ao, que nao podia, livrai. Espiaram os nossos passos, de maneira que nao podiamos andar pelas nossas ruas; o nosso fim estava perto; estavam contados os nossos dias, porque era chegado o nosso fim. Os nossos perseguidores foram mais ligeiros do que as aguias do ceu; sobre os montes nos perseguiram, no deserto nos armaram ciladas. O folego da nossa vida, o ungido do Senhor, foi preso nas covas deles, o mesmo de quem diziamos: Debaixo da sua sombra viveremos entre as nac,oes. Regozija-te, e alegra-te, o filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o calice te passara a ti tambem; embebedar-te-as, e te descobriras. Ja se cumpriu o castigo da tua iniqueidade, o filha de Siao; ele nunca mais te levara para o cativeiro; ele visitara a tua iniqueidade, o filha de Edom; descobrira os teus pecados.
Capitulo 5. Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso oprobrio. A nossa herdade passou a estranhos, e as nossas casas a forasteiros. c,rfaos somos sem pai, nossas maes sao como viuvas. A nossa agua por dinheiro a bebemos, por prec,o vem a nossa lenha. Os nossos perseguidores estao sobre os nossos pescoc,os; estamos cansados, e nao temos descanso. Aos egipcios e aos assirios estendemos as maos, para nos fartarmos de pao. Nossos pais pecaram, e ja nao existem; e nos levamos as suas iniqueidades. Escravos dominam sobre nos; ninguem ha que nos arranque da sua mao. Com perigo de nossas vidas obtemos o nosso pao, por causa da espada do deserto. Nossa pele esta abraseada como um forno, por causa do ardor da fome. Forc,aram as mulheres em Siao, as virgens nas cidades de Juda. Principes foram enforcados pelas maos deles; as faces dos anciaos nao foram respeitadas. Mancebos levaram a mo; meninos tropec,aram sob fardos de lenha. Os velhos ja nao se assentam nas portas, os mancebos ja nao cantam. Cessou o gozo de nosso corac,ao; converteu-se em lamentac,ao a nossa danc,a. Caiu a coroa da nossa cabec,a; ai de nos. porque pecamos. Portanto desmaiou o nosso corac,ao; por isso se escureceram os nossos olhos. Pelo monte de Siao, que esta assolado, andam os chacais. Tu, Senhor, permaneces eternamente; e o teu trono subsiste de gerac,ao em gerac,ao. Por que te esquecerias de nos para sempre, por que nos desampararias por tanto tempo? Converte-nos a ti, Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes; se e que nao nos tens de todo rejeitado, se e que nao estas sobremaneira irado contra nos.
Capitulo 2. Como cobriu o Senhor de nuvens na sua ira a filha de Siao! derrubou do ceu `a terra a gloria de Israel, e no dia da sua ira nao se lembrou do escabelo de seus pes. Devorou o Senhor sem piedade todas as moradas de Jaco; derrubou no seu furor as fortalezas da filha de Juda; abateu-as ate a terra. Tratou como profanos o reino e os seus principes. No furor da sua ira cortou toda a forc,a de Israel; retirou para tras a sua destra de diante do inimigo; e ardeu contra Jaco, como labareda de fogo que tudo consome em redor. Armou o seu arco como inimigo, firmou a sua destra como adversario, e matou todo o que era formoso aos olhos; derramou a sua indignac,ao como fogo na tenda da filha de Siao. Tornou-se o Senhor como inimigo; devorou a Israel, devorou todos os seus palacios, destruiu as suas fortalezas, e multiplicou na filha de Juda o pranto e a lamentac,ao. E arrancou a sua cabana com violencia, como se fosse a de uma horta; destruiu o seu lugar de assembleia; o Senhor entregou ao esquecimento em Siao a assembleia solene e o sabado; e na indignac,ao da sua ira rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote. Desprezou o Senhor o seu altar, detestou o seu santuario; entregou na mao do inimigo os muros dos seus palacios; deram-se gritos na casa do Senhor, como em dia de reuniao solene. Resolveu o Senhor destruir o muro da filha de Siao; estendeu o cordel, nao reteve a sua mao de fazer estragos; fez gemer o antemuro e o muro; eles juntamente se enfraquecem. Sepultadas na terra estao as suas portas; ele destruiu e despedac,ou os ferrolhos dela; o seu rei e os seus principes estao entre as nac,oes; nao ha lei; tambem os seus profetas nao recebem visao alguma da parte do Senhor. Estao sentados no chao os anciaos da filha de Siao, e ficam calados; lanc,aram po sobre as suas cabec,as; cingiram sacos; as virgens de Jerusalem abaixaram as suas cabec,as ate o chao. Ja se consumiram os meus olhos com lagrimas, turbada esta a minha alma, o meu corac,ao se derrama de tristeza por causa do quebrantamento da filha do meu povo; porquanto desfalecem os meninos e as crianc,as de peito pelas ruas da cidade. Ao desfalecerem, como feridos, pelas ruas da cidade, ao exalarem as suas almas no regac,o de suas maes, perguntam a elas: Onde esta o trigo e o vinho? Que testemunho te darei, a que te compararei, o filha de Jerusalem? A quem te assemelharei, para te consolar, o virgem filha de Siao? pois grande como o mar e a tua ferida; quem te podera curar? Os teus profetas viram para ti visoes falsas e insensatas; e nao manifestaram a tua iniqueidade, para te desviarem do cativeiro; mas viram para ti profecias vas e coisas que te levaram ao exilio. Todos os que passam pelo caminho batem palmas contra ti; eles assobiam e meneiam a cabec,a sobre a filha de Jerusalem, dizendo: E esta a cidade que denominavam a perfeic,ao da formosura, o gozo da terra toda? Todos os teus inimigos abrem as suas bocas contra ti, assobiam, e rangem os dentes; dizem: Devoramo-la; certamente este e o dia que esperavamos; achamo-lo, vimo-lo. Fez o Senhor o que intentou; cumpriu a sua palavra, que ordenou desde os dias da antigueidade; derrubou, e nao se apiedou; fez que o inimigo se alegrasse por tua causa, exaltou o poder dos teus adversarios. Clama ao Senhor, o filha de Siao; corram as tuas lagrimas, como um ribeiro, de dia e de noite; nao te des repouso, nem descansem os teus olhos. Levanta-te, clama de noite no principio das vigias; derrama o teu corac,ao como aguas diante do Senhor! Levanta a ele as tuas maos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome `a entrada de todas as ruas. Ve, o Senhor, e considera a quem assim tens tratado! Acaso comerao as mulheres o fruto de si mesmas, as crianc,as que trazem nos brac,os? ou matar-se-a no santuario do Senhor o sacerdote e o profeta? Jazem por terra nas ruas o moc,o e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair `a espada; tu os mataste no dia da tua ira; trucidaste-os sem misericordia. Convocaste de toda a parte os meus terrores, como no dia de assembleia solene; nao houve no dia da ira do Senhor quem escapasse ou ficasse; aqueles que eu trouxe nas maos e criei, o meu inimigo os consumiu.
Capitulo 3. Eu sou o homem que viu a aflic,ao causada pela vara do seu furor. Ele me guiou e me fez andar em trevas e nao na luz. Deveras fez virar e revirar a sua mao contra mim o dia todo. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele; quebrou-me os ossos. Levantou trincheiras contra mim, e me cercou de fel e trabalho. Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos ha muito. Cercou-me de uma sebe de modo que nao posso sair; agravou os meus grilhoes. Ainda quando grito e clamo por socorro, ele exclui a minha orac,ao. Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas. Fez-se-me como urso de emboscada, um leao em esconderijos. Desviou os meus caminhos, e fez-me em pedac,os; deixou-me desolado. Armou o seu arco, e me pos como alvo `a flecha. Fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava. Fui feito um objeto de escarnio para todo o meu povo, e a sua canc,ao o dia todo. Encheu-me de amarguras, fartou-me de absinto. Quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza. Alongaste da paz a minha alma; esqueci-me do que seja a felicidade. Digo, pois: Ja pereceu a minha forc,a, como tambem a minha esperanc,a no Senhor. Lembra-te da minha aflic,ao e amargura, do absinto e do fel. Minha alma ainda os conserva na memoria, e se abate dentro de mim. Torno a trazer isso `a mente, portanto tenho esperanc,a. A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericordias nao tem fim; renovam-se cada manha. Grande e a tua fidelidade. A minha porc,ao e o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom e o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom e ter esperanc,a, e aguardar em silencio a salvac,ao do Senhor. Bom e para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Que se assente ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o pos sobre ele. Ponha a sua boca no po; talvez ainda haja esperanc,a. De a sua face ao que o fere; farte-se de afronta. Pois o Senhor nao rejeitara para sempre. Embora entristec,a a alguem, contudo tera compaixao segundo a grandeza da sua misericordia. Porque nao aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens. Pisar debaixo dos pes a todos os presos da terra, perverter o direito do homem perante a face do Altissimo, subverter o homem no seu pleito, nao sao do agrado do senhor. Quem e aquele que manda, e assim acontece, sem que o Senhor o tenha ordenado? Nao sai da boca do Altissimo tanto o mal como o bem? Por que se queixaria o homem vivente, o varao por causa do castigo dos seus pecados? Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor. Levantemos os nossos corac,oes com as maos para Deus no ceu dizendo; Nos transgredimos, e fomos rebeldes, e nao perdoaste, Cobriste-te de ira, e nos perseguiste; mataste, nao te apiedaste. Cobriste-te de nuvens, para que nao passe a nossa orac,ao. Como escoria e refugo nos puseste no meio dos povos. Todos os nossos inimigos abriram contra nos a sua boca. Temor e cova vieram sobre nos, assolac,ao e destruic,ao. Torrentes de aguas correm dos meus olhos, por causa da destruic,ao da filha do meu povo. Os meus olhos derramam lagrimas, e nao cessam, sem haver intermissao, ate que o Senhor atente e veja desde o ceu. Os meus olhos me afligem, por causa de todas as filhas da minha cidade. Como ave me cac,aram os que, sem causa, sao meus inimigos. Atiraram-me vivo na masmorra, e lanc,aram pedras sobre mim. Aguas correram sobre a minha cabec,a; eu disse: Estou cortado. Invoquei o teu nome, Senhor, desde a profundeza da masmorra. Ouviste a minha voz; nao escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Nao temas. Pleiteaste, Senhor, a minha causa; remiste a minha vida. Viste, Senhor, a injustic,a que sofri; julga tu a minha causa. Viste toda a sua vinganc,a, todos os seus designios contra mim. Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus designios contra mim, os labios e os pensamentos dos que se levantam contra mim o dia todo. Observa-os ao assentarem-se e ao levantarem-se; eu sou a sua canc,ao. Tu lhes daras a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas maos. Tu lhes daras dureza de corac,ao, maldic,ao tua sobre eles. Na tua ira os perseguiras, e os destruiras de debaixo dos teus ceus, o Senhor.
Capitulo 4. Como se escureceu o ouro! como se mudou o ouro purissimo! como estao espalhadas as pedras do santuario pelas esquinas de todas as ruas! Os preciosos filhos de Siao, comparaveis a ouro puro, como sao agora reputados por vasos de barro, obra das maos de oleiro! Ate os chacais abaixam o peito, dao de mamar aos seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto. A lingua do que mama fica pegada pela sede ao seu paladar; os meninos pedem pao, e ninguem lho reparte. Os que comiam iguarias delicadas desfalecem nas ruas; os que se criavam em escarlata abrac,am monturos. Pois maior e a iniqueidade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, a qual foi subvertida como num momento, sem que mao alguma lhe tocasse. Os seus nobres eram mais alvos do que a neve, mais brancos do que o leite, eram mais ruivos de corpo do que o coral, e a sua formosura era como a de safira. Mas agora escureceu-se o seu parecer mais do que o negrume; eles nao sao reconhecidos nas ruas; a sua pele se lhes pegou aos ossos; secou-se, tornou-se como um pau. . Os mortos `a espada eram mais ditosos do que os mortos `a fome, pois estes se esgotavam, como traspassados, por falta dos frutos dos campos. As maos das mulheres compassivas cozeram os proprios filhos; estes lhes serviram de alimento na destruic,ao da filha do meu povo. Deu o Senhor cumprimento ao seu furor, derramou o ardor da sua ira; e acendeu um fogo em Siao, que consumiu os seus fundamentos. Nao creram os reis da terra, bem como nenhum dos moradores do mundo, que adversario ou inimigo pudesse entrar pelas portas de Jerusalem. Isso foi por causa dos pecados dos seus profetas e das iniqueidades dos seus sacerdotes, que derramaram no meio dela o sangue dos justos. Vagueiam como cegos pelas ruas; andam contaminados de sangue, de tal sorte que nao se lhes pode tocar nas roupas. Desviai-vos! imundo! gritavam-lhes; desviai-vos, desviai-vos, nao toqueis! Quando fugiram, e andaram, vagueando, dizia-se entre as nac,oes: Nunca mais morarao aqui. A ira do Senhor os espalhou; ele nunca mais tornara a olhar para eles; nao respeitaram a pessoa dos sacerdotes, nem se compadeceram dos velhos. Os nossos olhos desfaleciam, esperando o nosso vao socorro. em vigiando olhavamos para uma nac,ao, que nao podia, livrai. Espiaram os nossos passos, de maneira que nao podiamos andar pelas nossas ruas; o nosso fim estava perto; estavam contados os nossos dias, porque era chegado o nosso fim. Os nossos perseguidores foram mais ligeiros do que as aguias do ceu; sobre os montes nos perseguiram, no deserto nos armaram ciladas. O folego da nossa vida, o ungido do Senhor, foi preso nas covas deles, o mesmo de quem diziamos: Debaixo da sua sombra viveremos entre as nac,oes. Regozija-te, e alegra-te, o filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o calice te passara a ti tambem; embebedar-te-as, e te descobriras. Ja se cumpriu o castigo da tua iniqueidade, o filha de Siao; ele nunca mais te levara para o cativeiro; ele visitara a tua iniqueidade, o filha de Edom; descobrira os teus pecados.
Capitulo 5. Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso oprobrio. A nossa herdade passou a estranhos, e as nossas casas a forasteiros. c,rfaos somos sem pai, nossas maes sao como viuvas. A nossa agua por dinheiro a bebemos, por prec,o vem a nossa lenha. Os nossos perseguidores estao sobre os nossos pescoc,os; estamos cansados, e nao temos descanso. Aos egipcios e aos assirios estendemos as maos, para nos fartarmos de pao. Nossos pais pecaram, e ja nao existem; e nos levamos as suas iniqueidades. Escravos dominam sobre nos; ninguem ha que nos arranque da sua mao. Com perigo de nossas vidas obtemos o nosso pao, por causa da espada do deserto. Nossa pele esta abraseada como um forno, por causa do ardor da fome. Forc,aram as mulheres em Siao, as virgens nas cidades de Juda. Principes foram enforcados pelas maos deles; as faces dos anciaos nao foram respeitadas. Mancebos levaram a mo; meninos tropec,aram sob fardos de lenha. Os velhos ja nao se assentam nas portas, os mancebos ja nao cantam. Cessou o gozo de nosso corac,ao; converteu-se em lamentac,ao a nossa danc,a. Caiu a coroa da nossa cabec,a; ai de nos. porque pecamos. Portanto desmaiou o nosso corac,ao; por isso se escureceram os nossos olhos. Pelo monte de Siao, que esta assolado, andam os chacais. Tu, Senhor, permaneces eternamente; e o teu trono subsiste de gerac,ao em gerac,ao. Por que te esquecerias de nos para sempre, por que nos desampararias por tanto tempo? Converte-nos a ti, Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes; se e que nao nos tens de todo rejeitado, se e que nao estas sobremaneira irado contra nos.